Publicado em: 22/06/2020 00:25:26
Suposto autor da teoria não considerou cálculos para a conversão entre calendários
por DIOGO MARQUES
Boas notícias! Se você está lendo este texto é porque temos mais uma notícia falsa… e ainda estamos todos vivos. O ano de 2020 já está sendo, por si só, uma tragédia. Se já não bastasse um mundo dividido e polarizado, ainda sofremos com uma pandemia, conflitos armados, um vulcão em erupção, protestos violentos ao redor do globo, crise econômica, tragédias ambientais… ufa! Tudo isso em apenas seis meses. Não dá para piorar mais, não é? Dá, sim! Pelo menos, é o que diz o cientista Paolo Tagaloguin. De acordo com a revelação feita no seu perfil no Twitter, erepercutida pelo ROLNEWS, o mundo deveria ter acabado ontem, dia 21, depois da detecção de um eventual erro na interpretação do calendário Maia, que previa o fim do mundo para 21 dezembro de 2012: “Estamos tecnicamente em 2012. O número de dias perdidos em um ano devido à mudança para o calendário gregoriano é de 11 dias. Por 268 anos, usando o calendário gregoriano (1752-2020) vezes 11 dias = 2.948 dias. 2.948 dias / 365 (por ano) = 8 anos”. A teoria ganhou força quando foi publicada no tablóide inglês The Mirror. No entanto, a matéria foi retirada do site. E então, porque o mundo não acabou?
Imagem do Tweet de Paolo Tagaloguin, de 15/06/20
#Vacilou
A maior prova de que se tratava, de fato, de uma farsa é que hoje é segunda-feira, dia 22, e nada aconteceu. Contudo, existem outros elementos que poderiam ter sido considerados antes e que nos pouparia de tanto alarmismo. Por isso, investigamos os pontos falhos de mais uma teoria apocalíptica que (ainda bem) deu errado: a conversão para o calendário gregoriano e a própria existência do cientista Paolo Tagaloguin. Comecemos, assim, por esse último item.
Quem é Paolo Tagaloguin? O suposto estudioso, cuja conta no Twitter foi criada em junho de 2020, tem sua publicação mais antiga datada no dia 15, há uma semana atrás. São onze tweets, sendo oito deles se referindo ao Doomsday, o apocalipse, em inglês. Outras duas publicações remetem à captura de uma imagem de Marte por um satélite russo e a mais recente é sobre um eclipse solar. Aparentemente, o “estudioso, biólogo, atleta e pesquisador” (assim se define Tagaloguin em seu perfil no Twitter) não estava vinculado a nenhuma instituição científica, nem universidade, tampouco a algum estudo ou publicação de artigo científico. Tudo leva a crer que o famoso cientista sequer existe - pelo menos para o mundo da ciência. Difícil saber com certeza.
Imagem do perfil do Twitter de Paolo Tagaloguin
Imaginemos, então, que Paolo seja um cientista e que revelou o erro que culminou com mais uma teoria do apocalipse. Antes de qualquer coisa, vamos esclarecer o seguinte: atualmente usamos o calendário gregoriano, adotado em 1582, em substituição ao juliano. No entanto, nem todos os países que também o utilizam, fizeram a conversão simultaneamente. A Inglaterra, por exemplo, passou a fazer uso a partir de 1752. Voltemos agora à teoria de Paolo e ao equívoco que ele teria cometido: de fato, a passagem do calendário juliano para o gregoriano fez perder 11 dias, só que apenas uma vez, e não a cada ano durante 268 anos, como sugeriu o pesquisador. Tem mais: o suposto erro da interpretação do calendário maia também está furado, pois a data do fim do mundo, 21 de dezembro de 2012, como previa a antiga civilização pré-colombiana, já havia sido convertida quando da mudança do calendário juliano para o gregoriano. E por último, outros estudos (esses, sim, confiáveis) sugerem que os Maias acreditavam que a data representava apenas o fim de um ciclo e o início de outro, e não o fim do mundo. Todas essas informações podem ser encontradas no site Aventuras na História, do UOL, publicado no último dia 15.
Diante de tantos indícios que confirmam o contrário, nem era preciso esperar o nascer do dia 22 para saber que a teoria do fim do mundo, segundo Paolo Paolo Tagaloguin, não aconteceria… pelo menos não agora.
Fonte: ARUANA