Publicado em: 04/06/2020 19:44:01
Medicamentos são disponibilizados gratuitamente para pacientes, ainda que não tenham testado positivo
Por JESSICA CHALEGRA
Checado em 01/06/2020
Na sexta-feira, 29, o site Correio Central publicou uma matéria sobre o kit Covid-19, que seria distribuído pela prefeitura da Estância Turística Ouro Preto do Oeste, junto com a Secretaria Municipal de Saúde (SEMSAU). O texto explicava que cinco medicamentos estariam dentro da embalagem entregue à população: Azitromicina, Hidroxicloroquina 400 mg, Ivermectina, Vitamina D 10.000 mg e Zinco 66 mg.
De acordo com a notícia, o kit teria custado cerca de R$ 20, e teriam direito ao kit os pacientes que testaram positivo para o novo coronavírus. O prefeito e o secretário de Saúde da cidade comentaram que a decisão foi tomada após reuniões com o corpo médico da rede municipal de saúde, e também com médicos de outros Estados, que têm lidado na linha de frente do combate à pandemia.
#NaMosca
Após a matéria circular, checamos as informações mais relevantes. A primeira fonte buscada foi a própria Secretária Municipal de Saúde de Ouro Preto do Oeste. Como a ligação não foi atendida, a segunda tentativa foi feita para o telefone da Prefeitura Municipal da cidade em questão.
A ligação foi atendida e transferida para o secretário de Saúde, Cristiano Ramos Pereira, que posteriormente respondeu questões enviadas via WhatsApp e explicou que os esclarecimentos sobre o caso foram dados em uma live feita no Facebook Estância Turística Ouro Preto do Oeste, ainda na sexta-feira, 29 de maio.
No vídeo citado, o prefeito Vagno Gonçalves Barros (MDB) estava acompanhado pelo secretário municipal de Saúde Cristiano Ramos Pereira, e também pelos médicos Davi Siqueira e Laura Maria Carvalho Braga, sendo que o primeiro é diretor técnico do Hospital Municipal de Ouro Preto do Oeste.
De acordo com o prefeito, os medicamentos foram manipulados, já que na farmácia tradicional estavam em falta. Ele afirmou ter custado cerca de R$ 20 e acrescentou ser “de grande valia para o começo do Covid-19”.
Por sua vez, o secretário explicou que a partir do momento que ocorrer uma consulta, já ser o medicamento. Essa versão foi confirmada também em mensagens de texto via WhatsApp em que disse: “Paciente que fizer o teste e estiver com suspeita, já leva o kit antes mesmo de receber o resultado do exame”. Ele reforçou que os remédios são indicados para o início do tratamento e informou que ainda na sexta-feira, 29, passaram a ser distribuídos.
O médico Davi Siqueira disse que o kit foi feito tendo como base o protocolo do Ministério da Saúde, e também após terem lido artigos e debatidos tanto com médicos do Hospital Municipal de Ouro Preto do Oeste, como médicos da atenção Básica. “Chegamos num conceito pra esse ser o kit de início pro paciente que procurar a gente no hospital, ou na atenção básica, a partir do diagnóstico feito pelo médico e conversado com o paciente, e passar pra ele todas as avaliações clínicas e criteriosas que faz a medicação, assinando também um termo de consentimento”, disse Davi e acrescentou que isso aconteceria em caso de tratamento precoce.
Davi comentou que alguns estudos revelam que a cloroquina pode causar arritmia cardíaca no paciente, mas, em caso de sintomas graves. “Esse não é o protocolo do Hospital Municipal; esse é o protocolo de sintomas leves. O paciente chegou, o médico vai conversar, vai diagnosticar ele, ou se ele testou positivo e está com sintomas leves, ele via entrar com esse kit”, explicou.
O médico voltou a citar o uso de artigos para chegar à conclusão de que os medicamentos que compõem o kit poderiam ser entregues a pacientes no início da doença, além de explicar como cada um deles age no organismo. Ele ressaltou que a cloroquina só não tem efeito em casos graves.
O fato de a prefeitura ter disponibilizado a manipulação do kit também foi confirmado pela médica Laura Maria Carvalho Braga. Ela ainda reforçou a questão de pacientes suspeitos ou confirmados serem tratados com tais medicamentos, que serão prescritos após avaliação médica.
Já o prefeito comentou que o objetivo de fornecer o kit é fazer um tratamento precoce, para evitar que as pessoas fiquem internadas. “A nossa preocupação é essa: tratar os nossos pacientes em casa, que a chance é bem maior de cura. Então a gente tá trabalhando nesse sentido: cuidar no começo da doença”.
O QUE DIZ O PROTOCOLO DO MINISTÉRIO DA SAÚDE
Sobre o uso da Hidroxicloroquina a equipe Aruana Checagem já havia feito uma publicação em que citava a afirmação do presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), Mauro Luiz de Britto Ribeiro: ele disse que não há evidências científicas que comprovem a eficiência da cloroquina no tratamento da Covid-19.
O texto também cita a seguinte fala do presidente do CFM: “O Conselho Federal de Medicina não recomenda o uso da hidroxicloroquina. O que estamos fazendo é dando ao médico brasileiro o direito de, junto com seu paciente, em decisão compartilhada com seu paciente, utilizar essa droga. Uma autorização. Não é recomendação". O médico ainda pontuou que “não existe nenhuma evidência científica forte sobre a eficácia do uso da hidroxicloroquina no tratamento da Covid-19. É uma droga amplamente utilizada para outras doenças, já há 70 anos, mas em relação ao tratamento da Covid-19, não existe nenhum ensaio clínico, prospectivo, randomizado, feito por grupos de pesquisadores de respeito, com trabalhos publicados em revistas de ponta, que apontem qualquer tipo de benefício”.
No dia 20 de maio, o Ministério da Saúde divulgou orientações sobre o tratamento nos primeiros dias da doença, de acordo com os sintomas. No texto são apontados dois medicamentos associados à azitromicina: a cloroquina e o sulfato de hidroxicloroquina. Também é citado que “recentemente, o Conselho Federal de Medicina (CFM) propôs que os médicos considerassem a prescrição da cloroquina e da hidroxicloroquina, em condições excepcionais, a partir do consentimento do paciente para tratamento da Covid-19”.
Tanto no texto publicado no site do Ministério da Saúde, como o documento que está disponível nele, está escrito que médicos poderão prescrever cloroquina ou hidroxicloroquina, junto com a azitromicina, para pacientes que estão entre o 1º e o 5º dia da doença, e que estejam com os seguintes sintomas: perda do paladar e olfato, febre, coriza, diarreia, dor abdominal, tosse, fadiga, dores musculares e cefaleia.
Porém, as publicações entram em contradição, porque enquanto a matéria publicada pelo Ministério da Saúde diz que a cloroquina é indicada apenas para casos leves, o documento que tem o link inserido na mesma publicação mostra que Difosfato de Cloroquina e Sulfato de Hidroxicloroquina são indicados não só para casos leves, mas, também para os moderados. No caso do segundo medicamento, ele é citado também para o tratamento daqueles que estão em caso grave.
Em Ouro Preto do Oeste os medicamentos são entregues aos pacientes antes de sair o resultado do exame para Covid-19, como foi confirmado na live e também por mensagem de texto via WhatsApp com o secretário de Saúde do município. Porém, o documento disponibilizado pelo Ministério da Saúde diz que “Os critérios clínicos para início do tratamento em qualquer fase da doença não excluem a necessidade de confirmação laboratorial e radiológica”.
Outro ponto a ser abordado: o kit Covid-19 que tem sido distribuído é composto por Azitromicina, Hidroxicloroquina 400 mg, Ivermectina, Vitamina D 10.000 mg e Zinco 66 mg, porém, os dois últimos citados não estão na lista de indicações do Ministério da Saúde. É citado apenas que: “Nos pacientes com deficiência ou presunção de deficiência de vitamina D, considerar a reposição conforme necessidade clínica”.
Fonte: ARUANA