Publicado em: 01/06/2020 21:02:04
Dados públicos mostram disparidade na quantidade de óbitos nas unidades federativas cujos administradores são adversários políticos de Bolsonaro
Por DIOGO MARQUES
Checagem em 29/05/2020
O Portal R7 publicou, em 26 de maio, uma matéria cujo conteúdo afirmava que “os Estados brasileiros governados por adversários de Jair Bolsonaro concentram a maior parte decasos e mortes por Covid-19, de acordo com os dados divulgados pelo Ministério da Saúde”. O texto considerou que “catorze unidades federativas possuem, juntas, 87% das mortes e 79% das infecções confirmadas pelo novo coronavírus”. Os estados governados por opositores do presidente são: São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Pernambuco, Ceará, Maranhão, Rio Grande do Norte, Sergipe, Piauí, Alagoas, Paraíba, Bahia, Amapá e Pará. No sentido oposto, as unidades federativas cujos governadores são aliados de Jair Bolsonaro ou neutros, de acordo com o Portal R7 foram: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Goiás, Mato Grosso, Distrito Federal, Rondônia, Acre, Roraima, Tocantins e Amazonas.
Em termos de números absolutos, referentes à atualização do site do Ministério da Saúde em 25 de maio, a publicação afirmava que “o estado de São Paulo, sob comando de João Doria (PSDB), tem 83,6 mil casos e 6.220 mortes provocadas pela enfermidade. Governado por Wilson Witzel (PSC), o Rio de Janeiro é o segundo colocado, com 39,3 mil casos e 4.105 mortes. O Ceará, governado por Camilo Santana (PT), é o terceiro, com 36,1 mil casos e 2.493 mortes”
Tendo como parâmetro a proporção dos casos confirmados e óbitos em cada grupo de estados (opositores e aliados ou neutros), é apresentado o seguinte, ainda de acordo com o Ministério da Saúde, em 25 de maio: “a incidência da doença, medida pelo número de casos a cada 100 mil habitantes, também é maior nos estados cuja gestão faz oposição a Bolsonaro. Em média, considerando os 14 estados, são 267 mortes para cada 100 mil pessoas. Por outro lado, nos estados governados por aliados do Planalto, há 197,8 mortes para cada 100 mil habitantes. A mortalidade, de acordo com os dados do Ministério da Saúde, atinge 13,7 pessoas a cada 100 mil pessoas nos estados sob a tutela de opositores de Bolsonaro. Entre aliados, esse número é de 7 mortes para cada 100 mil”.
#NaMosca
Fomos atrás dos dados disponibilizados pelo Ministério da Saúde que o Portal R7 usou para fundamentar seu conteúdo. Após a atualização do dia 25 de maio, os catorze estados administrados por adversários políticos do Presidente Jair Bolsonaro, de acordo com a divisão feita pelo jornalismo da Record, concentravam mais de 87% dos óbitos por Covid-19 registrados em todo o país. No dia em questão, foram registradas 23.473 mortes acumuladas pelo coronavírus no Brasil. Nosso levantamento, realizado no dia 28 em cada uma das secretarias estaduais de saúde, apontou o total de 20.790 falecimentos só nas unidades da federação tidas como opositoras do Presidente. Isso representa, em percentuais, 88,5% do total de óbitos, de norte a sul do país. Fizemos, ainda, um comparativo tomando os casos dos três estados com maior incidência de mortes, que foram igualmente abordados pela reportagem do R7: São Paulo registrou, até o dia 25, 6.220 óbitos; o Rio de Janeiro, 4.105; e o Ceará, de acordo com o apresentado na matéria, 2.493. No entanto, a partir desses números, observamos que aqueles divulgados pela secretaria de saúde do Ceará, após as atualizações do dia 28, eram ainda maiores, 2.809. Ressaltamos que essa diferença é considerada normal, uma vez que, em geral, esses dados estão sujeitos a correções, visto que o envio das informações das secretarias estaduais para o Ministério da Saúde pode ser retardado em alguns dias.
A respeito dos números de mortalidade proporcionais, o R7 acerta mais uma vez: os estados administrados por opositores de Bolsonaro apresentam uma média maior do que os outros que são considerados aliados ou neutros em relação ao governo federal. A proporcionalidade leva em conta o número de casos a cada 100 mil habitantes, ou seja, não importa qual estado é mais populoso do que o outro, este modelo de estatística equilibra essa diferença.
Ademais, não nos cabe em uma checagem desta natureza, analisar ou avaliar os critérios usados pelo jornalismo da Record para separar as 27 unidades federativas em grupos pró, neutros ou contra o Presidente Jair Bolsonaro. Esta discussão nos levaria a um campo opinativo e subjetivo, o que poderia nos conduzir para além dos limites de uma checagem de fatos. Por este motivo, optamos por permanecer dentro dos elementos objetivos da matéria do Portal R7, os números.
Fonte: ARUANA